Encontrar o sofrimento
Como você encontra o sofrimento? Receio que a maioria de nós o encontre muito superficialmente. Nossa educação, nosso treinamento, nosso conhecimento, as influências sociológicas a que estamos expostos, tudo nos torna superficiais. Uma mente superficial é a que foge para a igreja, para alguma conclusão, algum conceito, alguma crença ou ideia. Todos esses são refúgios para a mente superficial que está em sofrimento. E se você não pode encontrar um refúgio, constrói um muro em torno de si e se torna cínico, duro, indiferente, ou você foge através de alguma reação fácil, neurótica. Todas essas defesas contra o sofrimento impedem mais investigação.or favor, olhe para sua própria mente; observe como você explica satisfatoriamente seus sofrimentos, se perde no trabalho, em ideias, ou se agarra numa crença em Deus, ou numa vida futura. E se nenhuma explicação, nenhuma crença foi satisfatória, você foge através da bebida, do sexo, ou se tornando cínico, duro, amargo, frágil. Geração após geração isto vem sendo passado pelos pais a seus filhos, e a mente superficial nunca tira a bandagem dessa ferida; ela realmente não sabe, não está realmente inteirada do sofrimento. Ela tem simplesmente uma ideia sobre o sofrimento. Tem um quadro, um símbolo do sofrimento, mas nunca encontrou o sofrimento; ela encontra apenas a palavra sofrimento.
O sofrimento é essencial?
Existem muitas variedades, complicações e graus de sofrimento. Todos nós sabemos disso. Você sabe disso muito bem, e nós carregamos este fardo pela vida, praticamente do momento em que nascemos até o momento em que vamos para o túmulo. Se dissermos que isto é inevitável, então não há resposta; se você aceita isto, então parou de investigar. Fechou a porta para mais investigação; se você foge disto, também fechou a porta. Você pode fugir para um homem ou mulher, para a bebida, distrações, várias formas de poder, posição, prestígio ou para o tagarelar interno sobre nada. Então suas fugas se tornam importantíssimas; os objetos para onde você voa assumem colossal importância. Assim, você fechou a porta do sofrimento também, e é isso que a maioria de nós faz. Ora, podemos nós interromper todo tipo de fuga e voltar para o sofrimento? Isso significa não buscar uma solução para o sofrimento. Existe sofrimento físico – dor de dente, dor de estômago, uma operação, acidentes, várias formas de sofrimento físico que têm sua própria resposta. Também existe o medo da dor futura, que poderia causar sofrimento. O sofrimento está intimamente relacionado com o medo, e sem a compreensão destes dois fatores principais na vida, nunca compreenderemos o que é ser compassivo, amar. Então uma mente interessada na compreensão do que é compaixão, amor e todo o resto, deve certamente compreender o que é medo e o que é sofrimento.
Felicidade não é sensação
A mente não pode encontrar a felicidade. A felicidade não é uma coisa a ser perseguida e encontrada, como a sensação. A sensação pode ser encontrada vezes e mais vezes, porque está sempre sendo perdida; mas a felicidade não pode ser encontrada. A felicidade relembrada é só uma sensação, uma reação a favor ou contra o presente. O que está acabado não é felicidade; a experiência de felicidade que está acabada é sensação, pois lembrança é o passado e o passado é sensação. Felicidade não é sensação. O que você conhece é o passado, não o presente; e o passado é sensação, reação, memória. Você lembra que foi feliz; e pode o passado dizer o que é felicidade? Ele pode lembrar, mas não pode ser. Reconhecimento não é felicidade; saber o que é ser feliz, não é felicidade. Reconhecimento é a resposta da memória; e pode a mente - o complexo de memórias, experiências - ser feliz? O próprio reconhecimento impede o experimentar. Quando você está cônscio de que está feliz, existe felicidade? Quando há felicidade, você está cônscio dela? A consciência só surge com o conflito; o conflito da lembrança do mais. Felicidade não é a lembrança do mais. Onde existe conflito, a felicidade não está. Conflito é onde a mente está. O pensamento, em todos os níveis, é a resposta da memória e assim, invariavelmente, nasce o conflito. Pensamento é sensação, e sensação não é felicidade. As sensações estão sempre buscando gratificações. O fim é sensação, mas a felicidade não está no fim; ela não pode ser buscada.
A fuga final
O que você quer dizer com problema de sexo? É o ato, ou é um pensamento a respeito do ato? Certamente, não é o ato. O ato sexual não é problema para você mais do que o comer é um problema para você, mas se você pensa em comer ou em qualquer outra coisa o dia inteiro porque não tem mais nada para pensar, isto se torna um problema para você. Por que você constrói isto, o que você está obviamente fazendo? Os cinemas, as revistas, as histórias, o modo como as mulheres se vestem, tudo está formando seus pensamentos, por que a mente de fato pensa em sexo? Por que, senhores e senhoras? É seu problema. Por quê? Por que isto se tornou um assunto central na vida de vocês? Quando existem tantas coisas chamando, exigindo sua atenção, você dá atenção completa ao pensamento sobre sexo. O que acontece, por que suas mentes estão tão ocupadas com isto? Porque esse é um caminho de fuga final, não é? É uma forma de completo esquecimento de si mesmo. Por um tempo, ao menos naquele momento, você pode se esquecer de si mesmo e não existe outro modo de esquecer-se de si mesmo. Tudo o mais que você faz dá ênfase ao “eu”, ao ego. Seu negócio, sua religião, seus deuses, seus líderes, suas ações políticas e econômicas, sua adesão a um partido e a negação do outro, tudo isso enfatiza e reforça o “eu”. Quando existe uma única coisa em sua vida que é uma avenida para a última fuga, para o completo esquecimento de você mesmo só durante poucos segundos, você se prende a isto porque esse é o único momento em que você está feliz.
Krishnamurti, J. Krishnamurti, The Book of Life (O livro da vida)
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